Telma Santos, natural de Peniche, é uma das maiores referências do badminton em Portugal. Iniciou a sua carreira no Clube Stella Maris de Peniche, onde deu os primeiros passos na modalidade e alcançou os primeiros títulos. Mais tarde, representou o União Desportiva de Santarém, o Grupo Desportivo do Estreito e a CHE Lagoense — clube onde consolidou a sua carreira no escalão sénior e alcançou grande parte dos seus títulos nacionais e internacionais. Teve ainda uma experiência na Dinamarca, ao serviço do Vendsyssel, e, nos últimos anos, jogou em Espanha, representando o prestigiado Club Bádminton IES La Orden, de Huelva, uma das equipas de maior destaque no panorama do badminton espanhol. Com um palmarés notável, destacou-se como Campeã Nacional de Absolutos em 2001, 2002, 2003, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2012, 2013 e 2014, consolidando-se como uma atleta de elite.
No plano internacional, Telma alcançou feitos memoráveis: somou 20 presenças em torneios internacionais, conquistando 15 vitórias e 5 segundos lugares. Destaca-se, entre esses resultados, a vitória nos prestigiados Internacionais de Portugal, em 2010 — um marco que reforçou a sua relevância no panorama do badminton nacional e internacional. Ao longo da sua carreira, demonstrou consistência, excelência e uma dedicação ímpar, afirmando-se como uma das jogadoras portuguesas mais bem-sucedidas da sua geração.
Em 22 de setembro de 2011, alcançou o seu melhor ranking mundial, posicionando-se como a 62.ª melhor jogadora de singulares senhoras, um marco significativo para o badminton português.
Telma foi também uma figura incontornável da Seleção Nacional, representando Portugal em diversas competições internacionais. Entre as suas participações destacam-se os Jogos Olímpicos de Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016, consolidando o seu papel como uma das principais embaixadoras da modalidade.
Estas conquistas refletem a dedicação, o talento e a paixão de Telma Santos pela modalidade. Atualmente, como Selecionadora Nacional, Telma canaliza toda a sua experiência para inspirar e formar novas gerações de atletas, com o objetivo de promover o crescimento e a competitividade do badminton português no cenário internacional.
Hoje, Dia Olímpico, celebramos os valores do desporto, da excelência, da amizade e do respeito — princípios que também definem o percurso de Telma Santos. Para assinalar esta data, damos-lhe a conhecer um pouco mais da última atleta feminina portuguesa a representar Portugal nos Jogos Olímpicos, atualmente Selecionadora Nacional.
Como te sentes com o teu regresso à FPB depois de algum tempo afastada? O que te motivou a aceitar o desafio de assumir o papel de Selecionadora Nacional?
Para ser sincera, sinto um misto de emoções. Vivi momentos muito felizes e inesquecíveis a representar Portugal, mas também passei por outros que me marcaram muito pela tristeza que trouxeram à minha carreira. O que realmente me motivou a aceitar este desafio foram os atletas, aceitei por eles e pela paixão que tenho pela modalidade.
Não esperava o convite, mas assim que o Sr. Presidente Duarte Anjo me apresentou os seus objetivos para elevar o nosso badminton, senti que era uma oportunidade única. Depois de algum tempo afastada, vejo esta função como uma forma incrível de contribuir, com a ajuda de toda equipa, porque nada se faz sozinho, para o crescimento do badminton em Portugal.
Mais do que tudo, foi o amor pela modalidade e o desejo de ajudar os atletas a atingir o seu máximo potencial que me levou a dar este passo.
Quais são as tuas expectativas para esta nova fase na tua carreira?
Vejo esta oportunidade como uma grande evolução, tanto a nível profissional como pessoal. Profissionalmente, será um desafio muito enriquecedor trabalhar com os atletas, e tenho a certeza que serão eles os que mais contribuirão para o meu crescimento como treinadora e líder. Não vai ser fácil, vai ser um caminho longo com muitos altos e baixos, mas é isso que me move. Sou uma pessoa que valoriza a aprendizagem contínua e a partilha de conhecimento. Por isso, vejo esta oportunidade como uma forma de aprender também com os nossos treinadores em Portugal, enquanto partilhamos e agregamos conhecimento de forma aberta e colaborativa.
Pessoalmente, encaro esta função como uma forma de retribuir tudo o que o badminton me proporcionou ao longo da minha carreira. É a oportunidade de continuar a viver a minha paixão, agora noutro papel, com uma equipa em quem confio plenamente. Quero dar o meu melhor pelos atletas, procurando contribuir para o seu desenvolvimento não só enquanto jogadores, mas também enquanto pessoas. Vou errar, vou corrigir os erros, vou aprender…vou crescer. Porque estamos sempre em constante aprendizagem.
Sempre fui extremamente exigente comigo mesma enquanto atleta, e essa exigência continuará a ser uma marca no meu papel de selecionadora. Espero que esta nova fase seja marcada por conquistas que impulsionem os atletas e promovam o crescimento do badminton em Portugal.
Quais os maiores desafios que esperas enfrentar agora nesta nova função e como planeias lidar com eles?
Um dos maiores desafios será conseguir mudar alguns hábitos e estabelecer regras que considero fundamentais para garantir que, no futuro, a formação e o acompanhamento dos nossos jovens atletas os preparem para competir ao mais alto nível. Vai levar tempo, é um processo demorado, mas acredito nele.
Na minha opinião, esta nova geração de atletas tem hoje ao seu dispor um conjunto de ferramentas e condições que, há 20 anos, simplesmente não existiam: apoio técnico especializado, acesso a estruturas de treino, conhecimento científico, acompanhamento multidisciplinar e oportunidades internacionais. No entanto, sinto que muitos ainda não compreendem — ou não assumem verdadeiramente — o que significa querer, no sentido mais completo da palavra.
Querer implica compromisso diário, disciplina constante, resiliência nos momentos difíceis, capacidade de lidar com o sofrimento físico e emocional, e coragem para enfrentar a frustração sem baixar os braços. Muitos atletas sonham com os Jogos Olímpicos, e ainda bem, mas muitas vezes não fazem o essencial que esse sonho exige. Ter acesso não basta — é preciso aproveitar, trabalhar, insistir.
O talento pode abrir portas, mas é o trabalho contínuo e a atitude que determinam quem realmente chega lá. E é essa mentalidade que precisamos de cultivar: uma geração que não se contente com o potencial, mas que o transforme em conquistas concretas.
E claro, outro grandioso objetivo é a qualificação olímpica no qual eu já fiz parte como atleta. Não temos ninguém no maior evento multidesportivo do mundo desde 2016 e todos nós desejamos que isso volte a acontecer. Além disso, equilibrar os interesses individuais dos atletas com os objetivos coletivos da nossa seleção será fundamental. Vai ser essencial muito diálogo, muito trabalho em conjunto com os treinadores dos atletas, muita confiança e interajuda no processo, um bom planeamento estratégico e trabalho de equipa com a estrutura técnica da Federação.
Como foi para ti assumir o papel de Selecionadora Nacional em uma competição internacional realizada “em casa” nos Internacionais de Juniores em 2024?
Foi uma experiência inesquecível e muito especial. Representar o país sempre foi motivo de grande orgulho para mim. Estar agora no papel de treinadora numa competição internacional “em casa” trouxe uma motivação extra para fazer o melhor. Nada que foi feito na competição foi mérito meu, mas sim dos treinadores que acompanham diariamente os seus atletas e da Equipa técnica que ao longo dos anos trabalharam com eles, nomeadamente, o Fernando, o Diogo e o Eduardo.
Ver os atletas superarem-se e alcançarem o pódio foi motivo de orgulho e felicidade. Este torneio permitiu-me conhecê-los melhor, compreender a sua forma de estar em campo e identificar aspetos importantes que quero trabalhar com eles no futuro. Foi uma experiência que reforçou ainda mais a importância de acreditar nos processos e no enorme potencial dos nossos atletas.
Sabemos que o teu tio, Fernando Silva, sempre foi o teu ídolo e uma grande inspiração ao longo da tua carreira. Como é a transição de sobrinha e atleta para colega na Equipa Técnica?
O meu tio é a principal razão de eu me ter tornado jogadora de badminton. Foi e sempre será uma das maiores referências da minha vida, não apenas como atleta, mas também como pessoa. Trabalhar ao lado dele agora é uma enorme honra e uma oportunidade única de continuar a aprender. Durante as nossas funções, o “tio” e a “sobrinha” ficam de lado – somos treinadores da seleção nacional, parceiros de trabalho. Espero que tenhamos grandes “discussões” e que nem sempre concordemos, porque é nesse confronto de ideias que surgem as maiores aprendizagens. Apesar desta nova dinâmica, o respeito e a admiração que sinto por ele continuam intactos. Agora, vejo-o também como um colega que partilha comigo a mesma paixão e dedicação ao badminton. Fora dessas funções…é o tio que tanto amo!
Como esperas contribuir para o desenvolvimento do badminton em Portugal, especialmente junto das novas gerações? Quais áreas achas que precisam de maior atenção?
Quero ajudar a criar um ambiente onde os nossos atletas se sintam apoiados e, ao mesmo tempo, desafiados a evoluir. Que percebam que, para exigir, precisam ser os primeiros a dar e a confiar. Quando falo em dar, refiro-me ao compromisso, à dedicação aos treinos, ao respeito pela alimentação e pelo descanso, ao respeito mútuo, à vontade de superar limites e à exigência consigo mesmos. Quando falo em confiar, refiro-me à importância de acreditarem no processo, nos treinadores e equipa que trabalhar com eles e de serem atletas dentro e fora de campo.
Acredito que é essencial focarmo-nos no desenvolvimento técnico desde cedo, mas também em construir uma mentalidade competitiva e em trabalhar a gestão de carreira. Investir em programas de base e melhorar as condições de treino são áreas que considero prioritárias e que merecem maior atenção.
Há algum projeto específico dentro da Federação que te entusiasme particularmente?
Tudo no badminton me entusiasma, afinal, é a minha grande paixão. Acredito profundamente na nossa equipa de treinadores, e estou convicta de que projetos voltados para a formação, como a integração das seleções de S11 e S13, que consideramos fundamentais, acabarão por dar frutos. Estes projetos permitirão, no futuro, ter atletas mais bem preparados para representar a seleção em provas de equipas.
Tenho uma forte motivação pelo alto rendimento e pela construção de uma seleção nacional mais competitiva — uma seleção com confiança e coragem para enfrentar de igual para igual muitos países que, na verdade, não são assim tão superiores a nós.
Vejo toda a equipa envolvida na implementação de programas que assegurem o acesso dos atletas a treinos de qualidade e a competições desafiantes. Os polos vão seguramente contribuir muito para a carreira dual dos atletas e isso é muito importante para nós. Projetos como estes podem ser decisivos para construir uma base mais sólida e competitiva.
Quais são as tuas principais metas e objetivos para o trabalho com as Seleções Nacionais?
A curto prazo, era trazer as seleções mais jovens, o que já foi conseguido com a nossa equipa. A medio prazo, voltar a ter atletas no TOP 100 em todas as categorias, é claro que para isso é preciso haver aposta e termos condições para.
Pretendo com o apoio da FPB e das bolsas que possam surgir, proporcionais estágios no estrangeiro aos nossos melhores atletas e trazer bons sparrings a Portugal.
No que diz respeito às seleções mais jovens, é essencial promover mais intercâmbios com outras seleções, a fim de aumentar a competitividade, fortalecer a confiança e fomentar o espírito de grupo. É crucial trabalhar na mudança de mentalidade dos nossos atletas, preparando-os para os desafios do alto rendimento, conciliando sempre com algo que dou muita importância, os estudos.
A médio/longo prazo, o objetivo é melhorar os resultados das equipas, garantir a presença de Portugal nos Jogos Olímpicos novamente e conseguir qualificação para os Jogos Paralímpicos tanto em Singular Senhora como em Singular Homem.
Que mensagem gostarias de deixar para os jovens atletas que agora começam a olhar para o badminton como uma possível carreira?
Nunca deixem de acreditar no vosso potencial e sejam persistentes, porque os resultados só aparecem com esforço e dedicação. Aproveitem cada treino e cada competição como uma oportunidade de aprender. E, acima de tudo, mantenham o amor pela modalidade, pois é isso que vos dará força nos momentos mais difíceis.




